ATA DA VIGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 20.06.1991.

 


Aos vinte dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do Título de Cidadão Emérito ao Doutor Ivo Nesralla, concedido através do Projeto de Resolução nº 02/91 (Processo nº 225/91), de autoria do Vereador Leão de Medeiros. Às dezessete horas e quatorze minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Doutor Ivo Nesralla, Homenageado; Senhora Paulita Nesralla, Esposa do Homenageado; Senhores Carlos, Ivo Júnior e Paula, Filhos do Homenageado; Doutor Rubens Rodrigues, Diretor do Instituto de Cardiologia; Senhora Eva Sopher, Diretora do Teatro São Pedro; Vereador Leão de Medeiros, 1º Secretário da Casa. Após, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, convidou os presentes a ouvirem, de pé, a execução do Hino Nacional pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, registrou as presenças, no Plenário, do Maestro Túlio Belardi, da Senhora Carmem Pinto, Diretora da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, OSPA, da Senhora Esther Grossi, representando o Senhor Prefeito Municipal, e do Senhor Frederico Barbosa, ex-Vereador desta Casa. A seguir, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Leão de Medeiros, em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PCB, PFL, PL, PSB e PDT, analisou a homenagem hoje prestada pela Casa, dizendo restabelecer o Homenageado a vida e, também, participar da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Discorreu sobre a vida do Doutor Ivo Nesralla, ressaltando as lutas por ele empreendidas na busca de uma vida melhor. Após, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência relativa à solenidade, do Deputado Estadual César Schirmer e do Professor Rubens Rodrigues. A seguir, o Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PT, disse que hoje é um dia muito especial, com a presença da OSPA na Casa, nesta homenagem do Doutor Ivo Nesralla, falando sobre a cultura da nossa Cidade, da qual a referida orquestra faz parte, e salientando a participação do Homenageado na valorização e concretização do trabalho realizado pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Após, o Senhor Presidente convidou a todos para, de pé, assistirem à entrega, pela Senhora Paulita Nesralla, do Diploma de Cidadão Emérito ao Senhor Ivo Nesralla. Em continuidade, foi ouvido número musical executado pela OSPA e o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e dos minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Leão de Medeiros e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros e Omar Ferri, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário ,determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Minhas senhoras, meus senhores, declaro aberta a 20ª Sessão Solene da 3ª Sessão Legislativa Ordinária da 10ª Legislatura, destinada a conceder o Título de Cidadão Emérito ao Dr. Ivo Nesralla, conforme Requerimento do Ver. Leão de Medeiros. (Anuncia a composição da Mesa.)

Também, queremos registrar a presença da Srª Carmem Pinto, presidenta da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que foi dirigida, presidida pelo nosso Homenageado durante os últimos oito anos.

Nós convidamos todos os presentes para ouvirem, de pé, o Hino Nacional, que será interpretado pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, sob a regência do Maestro Túlio Belardi.

 

(É executado o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nesta Sessão destinada a homenagear o Dr. Ivo Nesralla, nós teremos as palavras do Ver. Leão de Medeiros, proponente da Sessão, e deste Vereador, em nome das nove Bancadas representadas na Casa.

Inicialmente, nós passamos a palavra ao Ver. Leão de Medeiros, que falará em nome do PDS, do PMDB, do PTB, do PCB, do PFL, do PSB, do PL e do PDT.

 

O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Dr. Ivo Nesralla, minhas senhoras, meus senhores, é com muita honra que venho a esta tribuna em nome das Bancadas já referidas pelo Sr. Presidente. (Lê.)

Quando soube que havíamos proposto, e a Câmara Municipal havia aprovado por unanimidade, a concessão do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, o Dr. Ivo Nesralla, na sua conhecida modéstia e na sua inexcedível humildade, comentou para um repórter: “Me tocou muito, pois nunca me passou pela cabeça receber um título assim”.Pois um título assim, com a qualificação de ‘emérito’, criado especialmente para aqueles que jamais poderiam receber o de Cidadão de Porto Alegre, porque nela nasceram, e portanto têm o direito e de fato, um título assim estava há muito tempo na mente e no coração dos porto-alegrenses, por motivos mais do que óbvios.

O Dr. Ivo Nesralla teve acesso ao coração dos rio-grandenses no momento em que seu mágico bisturi restaurou a vida ao intervir no mais nobre órgão do corpo humano, em junho de 1984, e teve acesso à inteligência do Rio Grande quando interveio na Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, transformando-a, em outros mágicos oito anos, na mais completa orquestra brasileira e em uma das principais da América Latina.

Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Dr. Ivo Nesralla, usei propositadamente o adjetivo mágico como um recurso de retórica. Na verdade, o Dr. Ivo Nesralla não é mágico, não recorre a quaisquer recursos extraterrenos. De fato, opera, literalmente, sobre a quase sólida, mas às vezes debilíssima natureza humana. A sua mágica é uma incrível e extraordinária contração ao trabalho. Seu curriculum de médico, de intelectual e de esportista revela desde logo sua magia: não lhe sobra tempo para nada, mas tem tempo para tudo. Somente homens de imensa capacidade de concentração são capazes de reger uma sinfonia. O Dr. Ivo Nesralla rege, no tumulto diuturno da vida, a cadência solene do coração, o doce murmúrio da flauta doce e o grito lancinante dos violinos. Entre uma coisa e outra, com a maestria e mesma concentração, a mesma determinação, joga golfe.

Tudo tem um começo. Neste começo, sempre se revela o talento. Vestibulando de Medicina em 1957, já em 1960 exercia a função de interno em cirurgia-geral nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia, ao mesmo tempo em que fundava e organizava atendimento medico nas vilas populares, que foi o primeiro serviço do gênero em Porto Alegre. Foi diretor da Revista Científica do Centro Acadêmico Sarmento Leite e freqüentou, durante o curso de graduação, outros dez cursos paralelos, dois deles no serviço do Professor Edmundo Vasconcellos, em São Paulo.

Doutorando em 1962, foi convidado pelo Dr. Cid Nogueira a compor a primeira equipe de cirurgia torácica e cardiovascular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Formado em dezembro de 1962, recebeu o seu primeiro e destacado título de Doutor em Medicina, ao defender a tese sobre “Importância da Hipoglicemia da Etiologia de Acidose Metabólica Secundária às Transfusões Maciças de Sangue em Cirurgia”. Ingressava no caminho que o levaria à cirurgia do coração, para a qual se voltara desde calouro, na faculdade, ao ouvir conferência do médico sueco Crawford sobre cirurgia a céu aberto.

A partir de 1963 começou sua carreira brilhante como professor no Serviço de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da Universidade, no Corpo Docente do Departamento de Cirurgia, no Instituto Dante Pazzaneze, em São Paulo, sob a direção do Professor Adib Jatene, e no Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, direção cirúrgica que mantém até hoje. Sua experiência cirúrgica é de dez mil operações realizadas sobre o coração e grandes vasos, se fosse uma operação diária significaria mais de vinte e sete anos de experiências, mas não era uma operação diária; às vezes, muito mais do que uma.

Sua produção intelectual é impressionante: 305 publicações, entre livros e revistas nacionais e estrangeiras, duas teses, quatro livros – mais o quinto, em preparação, sobre “Tratamento Cirúrgico das Cardiopatias para o ano 2000”. Compareceu a 248 congressos e simpósios regionais, nacionais e internacionais, e é responsável pela formação de 24 cirurgiões cardiovasculares. Completou 21 cursos de extensão universitária, destinados a aprimorar o quadro de títulos científicos que definem sua carreira profissional nas áreas de pesquisa e ensino.

Em 1984 realizou o primeiro transplante cardíaco no Rio Grande do Sul, o quarto no País, depois de quinze anos de pesquisa mundial sobre rejeição. Depois deste memorável curriculum, foi lógica sua eleição para a Presidência da Sociedade Brasileira de Cirurgia e da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

Intelectual, em nenhum momento abdicou do direito e do dever de participar da vida civil, fora do âmbito da medicina e da cirurgia. É sua a frase memorável: “Com educação se aprende e se sobrevive no mundo, mas a cultura é que dá ao povo o sentido de liberdade, e só os povos livres conseguem chegar ao Primeiro Mundo”.

Já se disse que junto de um grande homem há sempre uma grande mulher. A respeito da participação de sua esposa, Dona Paulita Nesralla, a quem rendemos também nossas homenagens, disse: “Eu devo muito à minha mulher, que não só entendeu, mas deu muita força e apoio para tudo aquilo que fiz”.

Se o Dr. Ivo Nesralla tivesse um dia pretendido conquistar um nicho na sociedade, um lugar de destaque na sociedade gaúcha e brasileira, os títulos de cirurgião emérito bastariam para assinalar-lhe a projeção. Bastar-lhe-ia saber-se em companhia de cirurgiões renomados, como Zerbini, Adib Jatene, Jesse Teixeira e tantos expoentes da medicina brasileira. Mas nosso homenageado nunca pensou nisso. Sempre lhe foram suficientes a consciência do dever cumprido, o prazer em desbravar e o feliz contentamento de servir.

Por isso, também não foi surpresa o convite para reanimar outro velho coração cansado, a Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Aceitou o convite porque era um desafio a mais e, de algum modo sedutor para o cirurgião que opera ao som de Bach e Vivaldi no austero ambiente das salas hospitalares. Ninguém poderia ter tido dúvidas de seu sucesso. Em duas gestões, ao longo de oito anos, transformou a mendiga, itinerante e conflituosa OSPA à posição de melhor orquestra sinfônica brasileira, hoje composta de 99 profissionais do mais alto nível. Uma orquestra que ombreia com as melhores da América Latina. Deu-lhe vida e sede própria, negociando a compra do antigo Teatro Leopoldina, hoje Teatro da OSPA, e a OSPA passou a ser a única orquestra brasileira com sede própria. Organizou um corpo de sócios da Fundação com 2500 pessoas – uma vez e meia a lotação do Teatro.

E porque pratica esporte, que considera essencial para o equilíbrio emocional, acabou sendo também Presidente do Country Club de Porto Alegre. Voltado para o problema social, que já se lhe revelara essencial na juventude universitária, um dos seus primeiros gestos foi criar a creche para as famílias dos caddies, os humildes funcionários encarregados de catar e transportas tacos e bolas de jogo.

Depois de vinte transplantes de coração, o Dr. Ivo Nesralla continua sendo o grande pesquisador. “Aprende-se alguma coisa em cada cirurgia”, observa. E, enquanto aprende, ensina. Aqui temos, para a justíssima homenagem da Cidade, que hoje lhe concede o Título de Cidadão Emérito, um homem cuja grandeza moral e profissional é o orgulho de sua mulher, Dona Paulita Nesralla, e de seus três filhos, e que é o orgulho de sua cidade natal. Uma homenagem grande como o coração dos porto-alegrenses, do qual ele cuida tão bem e que, se toca seu próprio coração, como afirmou, não abala, graças a Deus, nem a modéstia do intelectual nem a humildade do cirurgião. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar, ainda, a presença do ex-Vereador e Secretário Municipal de Educação Frederico Barbosa e da atual Secretária Municipal de Educação, Professora Esther Grossi, que representa, também, o Sr. Prefeito Municipal.

Queremos também registrar e fazer a entrega, ao Dr. Ivo, de telex firmado pelo Deputado César Schirmer, Presidente da Assembléia Legislativa. Queremos registrar, igualmente, correspondência firmada pelo Professor Rubem Rodrigues, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul e Diretor-Presidente da Fundação Universitária de Cardiologia, dirigida ao Ver. Leão de Medeiros.

Eu convido o Ver. Leão de Medeiros, 1º Secretário da Casa, que a partir deste momento e pela primeira vez, nós que formamos parte da Mesa Diretora da Casa, quebrando, inclusive, a tradição de que seria um dos Vice-Presidentes que assumiria os trabalhos, e o Ver. Omar Ferri, que aqui se encontra, deveria fazê-lo, mas será o Ver. Leão de Medeiros que assumirá, por decisão conjunta com o Ver. Omar Ferri e nós, no sentido de ampliarmos esta homenagem ao Dr. Ivo, já que foi o Ver. Leão de Medeiros o proponente desta Sessão.

 

O SR. PRESIDENTE (Leão de Medeiros): Concedemos a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt, que falará em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Minhas senhoras e meus senhores, talvez seja uma quebra de protocolo o fato de que o Ver. Leão de Medeiros falou por todas as Bancadas da Casa, menos pela minha. E não é uma prepotência do Presidente, mas talvez seja uma prepotência do Vereador, porque na sua lide profissional de jornalista atuou a vida inteira na área da cultura no Correio do Povo, no jornal Diário do Sul, já extinto, e, aliás, por um acaso, hoje começa essa lida no Jornal do Comércio. Não queria, este Vereador e este profissional, de maneira nenhuma, deixar saudar o Dr. Ivo Nesralla por tudo aquilo que ele fez na Presidência da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.

Em segundo lugar, porque é um momento muito importante para nós, e digo isso na condição de Presidente desta Casa, recebermos os amigos da OSPA aqui dentro, hoje, neste Plenário. Na minha função de jornalista na área cultural, já convivi com muitos dos músicos que aqui estão, e digo que convivi com muita honra, com muito orgulho. Viajamos juntos na primeira grande excursão que a Orquestra fez pelo Brasil, acompanhei o dia-a-dia desta Orquestra desde os tempos do Maestro Pablo Komlós. E vejo, inclusive, aqui, os Bertasos – e eu digo “os Bertasos” porque são dois – os representantes da família Bertaso, da Rede Globo, que tem uma ligação muito íntima não só com a Orquestra, mas com todo o movimento cultural desta Cidade, porque eles colaboraram com o Pró-Arte, colaboraram com a OSPA, colaboraram com o Teatro São Pedro, colaboraram com tudo quanto foi instituição cultural naquilo que podiam colaborar e, hoje, colaboram, aqui, até na sua presença nesta homenagem. Vejo tantas outras pessoas da comunidade que aqui acorrem, e, por isso, não vou falar do lado profissional do Dr. Ivo, do médico, do cirurgião, porque melhor que qualquer outra palavra, o atestam a presença dos senhores que aqui estão, e estão por obra e graça do Dr. Ivo.

Mas quero me permitir falar de um pequeno aspecto, mas para mim fundamental, Dr. Ivo Nesralla, daquilo que o Senhor fez na Presidência da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. A vida da OSPA já teve muitos altos e baixos – como, aliás, é tradicional num País de contradições e de altos e baixos na própria divisão de renda, na sua própria organização social, como é o Brasil, onde temos concentrações fantásticas e onde temos uma miséria enorme. A OSPA já teve seus altos e baixos, mas, sem dúvida nenhuma, eu não tenho por que deixar de mencionar, o Dr. Ivo pegou a OSPA num dos seus momentos mais complicados e mais difíceis, indicado que foi pelo então Governador Jair Soares, que também teve o bom senso de indicar, para a Direção do Teatro São Pedro, Eva Sopher, por exemplo; lembrar de Evelyn Berg para o Museu de Arte do Rio Grande do Sul. A indicação dessas pessoas seguiu uma política muito objetiva: pessoas que já tinham respeito, pessoas que já tinham experiências de liderança nas comunidades, pessoas que, sobretudo, não dependiam de um cargo público no Estado para sua sobrevivência, porque senão morreriam de fome. Essas pessoas assumiriam a condução dos grandes organismos culturais e dariam, com o seu nome, com o seu trabalho, com a sua tarefa, com a sua dedicação, aquele respaldo que, por vezes, a estrutura do governo, a estrutura política não dá. E acho que não houve exceção, quem não cumprisse essa tarefa. A maioria desses homens e dessas mulheres escolhidos cumpriu tão bem suas tarefas que o Governo seguinte, Governador Pedro Simon, manteve-os no cargo, mostrando que, para além das diferenças partidárias, ao menos na questão da política cultural, nós mantínhamos uma continuação profundamente saudável, porque não se mexe – diz um velho slogan – em time que está ganhando. E o Dr. Ivo continuou no seu trabalho.

Poderíamos dizer muito do que o Dr. Ivo deu à Orquestra, mas eu quero sintetizar, sobretudo, dois aspectos. Eu convivi com a Orquestra, como eu disse, como jornalista; eu convivi com a Orquestra, por exemplo, e muitos aqui vão lembrar disso, no coral que nós tínhamos para cantar as óperas, ainda ao tempo da Secretária Eni Camargo, em que Município e Orquestra se juntavam para fazer as grandes encenações operísticas. E sempre guardei muito na cabeça o que havia de amadorismo no esforço imenso daqueles que respondiam pela OSPA e o que os integrantes da Orquestra faziam para tocar esse barco adiante. E eu acho que uma das grandes conquistas que a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre teve na Administração do Dr. Ivo Nesralla foi, efetivamente, a busca de uma estrutura profissional sob todos os aspectos. Não se dependeu mais apenas dos minguados recursos do erário, onde, evidentemente, sempre se deixa a cultura para o dia 30 de fevereiro; não se dependeu mais dos favores, mas se buscou uma estrutura que possibilitasse um trabalho concreto. E se isso ainda não chegou no seu término, porque eu acho que nunca chega, sem dúvida nenhuma se avançou muito.

A conseqüência disso foi o segundo aspecto do trabalho do Dr. Ivo Nesralla. É uma palavra que significa alguma coisa que, sobretudo em países em crise, às vezes até em crise de identidade, como o nosso; é uma palavra que fica esquecida no vocabulário: chama-se dignidade. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre ganhou dignidade com a Administração do Dr. Ivo Nesralla, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre passou a ter uma política clara, objetiva de formação de músicos, de espaços abertos a estreantes, de programas de público não mais feitos de forma amadorística, como nós havíamos visto antes, de muito boa-fé mas de escassos resultados. Por isso, nós precisamos, devemos – e o fazemos aqui – agradecer profundamente ao Dr. Ivo.

Eu queria apenas lembrar aos senhores que refletia, num outro dia, quando nós chegamos à votação deste Processo na Câmara, e eu até deixava a presidência e me inscrevia para utilizar um tempo, uma coisa relativamente rara para quem ocupa a presidência, mas eu não queria me furtar de salientar um aspecto na felicidade da proposição do Ver. Leão de Medeiros. É que eu me dei conta de que a mesma sensibilidade que deve marcar a conjunção entre cérebro e movimento de mãos do médico na hora da operação, porque disso depende a vida do paciente, é a mesma concatenação que marca aquilo que é fundamental na música e que foi básico no trabalho do Dr. Ivo Nesralla: chama-se ritmo. O Dr. Ivo deu um ritmo, ele resolveu problemas práticos da Orquestra, liberando desta preocupação os maestros. E eu me lembro, certamente a maioria dos senhores acompanhou esta Orquestra desde os tempos do Maestro Pablo Komlós, e eu não tenho dúvidas em dizer que o Maestro Pablo Komlós ampliou a sua careca, em algumas vezes, das preocupações de como resolver problemas financeiros da Orquestra, deixando de ensaiar, eventualmente, a peça que deveria tocar logo depois, porque ele acabava acumulando todas essas funções, apesar de toda a preocupação e dedicação do Dr. Moysés Vellinho durante a sua longa Presidência, e também é um nome que precisamos aqui lembrar e homenagear, ainda que proximamente. Portanto, esta sensibilidade do médico aliou-se à sensibilidade de quem buscou, na música e na defesa desta Orquestra um “a mais” de sua contribuição à Cidade, um “a mais” que mostra muito bem o quão pouco de egoísmo o Dr. Ivo teve. Para citar a minha querida Eva Sopher, talvez ao contrário, como ela diz: “Eu queria tanto ver música nesta Cidade, que trouxe para cá o “Pró-Arte”. Talvez o Dr. Ivo seja o contrário: quisesse tanto ver a salvação dessa Orquestra, que resolveu ele próprio bancar esse desafio e levá-lo durante esses anos de duas administrações.

Para concluir, minhas senhoras e meus senhores, meu prezado Ver. Leão de Medeiros, que propôs esta homenagem tão justa, meu prezado Ivo, que é o nosso homenageado, eu me permito quebrar o protocolo numa segunda vez para dizer à Dona Carmem Pinto, que nos honra com a sua presença e que agora tem esta responsabilidade difícil, que eu realmente torço e espero que ela tenha a mesma força e a mesma sorte e a mesma dedicação; e que encontre, talvez, no Governador do Estado, inclusive na sua política cultural, as maneiras de resolver os desafios que se colocam dia a dia. Inclusive, em relação àqueles músicos professores que, de repente, vão ser obrigados – ou não, dependendo da luta que a Dona Carmem vai fazer – a abandonar a Orquestra e retornar às suas salas de aula, coisa que não gostaríamos que acontecesse. Por tudo isso, o Dr. Ivo merece a nossa homenagem; e Dona Carmem, nossa esperança. E hoje nós, reunidos, podemos sobretudo festejar uma instituição nesta Cidade, que é a Orquestra Sinfônica, que também sofreu uma operação, talvez não cardiovascular, Dr. Ivo, mas também é uma operação fundamental para que ela pudesse sobreviver. Um abraço ao Dr. Ivo, à sua família e a todos os nossos músicos que estão também, hoje, nesta homenagem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Gostaria de registrar a honra que tenho em presidir esta Sessão Solene, o que se deve à generosidade do Presidente desta Casa. E passo às mãos do Presidente Antonio Hohlfeldt o Título para que ele o entregue à Srª Paulita, esposa do Homenageado, para que ela mesma faça a entrega do Título de Cidadão Emérito ao nosso Homenageado, tão distinguida homenagem, convidando todos para assistirem de pé.

 

(Procede-se à entrega do Título de Cidadão Emérito ao Homenageado.)

 

O SR. PRESIDENTE: Continuando, concedemos a palavra ao nosso homenageado, Dr. Ivo Nesralla, mas antes vamos ouvir a Ária para Quarta Corda, de Bach, pela nossa OSPA.

 

(Procede-se a apresentação da OSPA.)

 

O SR. PRESIDENTE: Minhas senhoras e meus senhores, nada melhor do que ouvir a palavra do Homenageado, Dr. Ivo Nesralla, antecedida por essa beleza de execução que o nosso Maestro Túlio Belardi nos proporciona. Com a palavra o Dr. Ivo Nesralla.

 

O SR. IVO NESRALLA: Minhas senhoras e meus senhores, e – mais uma vez, eu não esperava mais fazer isso, mas, mais uma vez – meus caros, prezados músicos da OSPA, existem , em nossa vida, momentos alegres e momentos tristes. Os momentos tristes são feitos, muitas vezes, para testar a nossa fé, a nossa capacidade de absorver algum insucesso eventual e saber tirar desse insucesso às lições práticas da vida. Os momentos alegres, como este que os senhores me proporcionam, servem para estimular, acender uma chama de entusiasmo que mantém a vida, que mantém o entusiasmo do homem pelo trabalho.

Por tudo isso, eu agradeço aos Vereadores, ao Ver. Leão de Medeiros, ao Presidente da Casa; agradeço a todos vocês por acenderem mais esta chama que me dará mais entusiasmo para trabalhar. Eu acho e sempre tenho dito que nada vence a força do trabalho. O trabalho é o que, sem dúvida nenhuma, mais pode nos enobrecer, porque preenche o nosso tempo e, aí, nós achamos um objetivo em que fazer. Obrigado aos meus colegas do Instituto de Cardiologia aqui presentes, principalmente aos colegas da equipe cirúrgica, que por mais de vinte anos juntos estamos. Eu acho, Sr. Rubem Rodrigues, que é principalmente uma homenagem ao Instituto de Cardiologia.

Obrigado, senhores músicos, porque souberam escolher aquilo que realmente iria me tocar de fundo, que é a música e, dentro da música, Bach. Os senhores não fazem idéia do número de vezes que esta ária na corda do sol, na quarta corda, foi tocada enquanto eu operava. Realmente, esta é uma das mensagens mais belas que Bach deu ao homem, que é a mensagem da elevação do coração, elevação da mente e do ritmo, como falou Antonio Hohlfeldt. Muito obrigado a todos os funcionários, às enfermeiras do Instituto de Cardiologia que aqui estão, aos colegas da Faculdade de Medicina, a todos os presentes.

Na realidade, por trás de tudo o que nós fazemos sempre existe uma mulher que nos dá apoio, que nos orienta nos bons e nos maus momentos. Por isso, eu divido este Título com a Paulita, com o Carlos, com o Ivo Junior e a com a Paula. Só sinto que os meus pais não estejam aqui para sentirem e viverem a mesma emoção que eu vivo neste momento. A todos vocês, por mais estas inúmeras chamas que acenderam no meu entusiasmo, muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ao encerrar esta Sessão Solene, de entrega do Título de Cidadão Emérito ao Dr. Ivo Nesralla, em nome da Mesa, especialmente do Sr. Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, gostaria de registrar, entre nós, neste Plenário, que tem apenas um ano de ocupação pela Cidade de Porto Alegre, a presença marcante, significativa e honrosa para a Casa, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Receba o seu atual Diretor, Maestro Túlio Belardi, os agradecimentos da Câmara Municipal de Porto Alegre. Agradecemos todas as autoridades que aqui vieram, agradecemos às senhoras e aos senhores que aqui compareceram, a oportunidade de Porto Alegre homenagear tão ilustre figura, o Dr. Ivo Nesralla.

Encerramos a presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h02min.)

 

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